quinta-feira, 10 de junho de 2010

Esquizofrenia e yoga

Sobre a prática de yoga aplicado na ajuda de casos de tratamento da esquizofrenia

Introdução
Este trabalho divide-se em 2 partes coexistentes:
Parte I - o ponto de vista com referência a terminologia científica
Parte II - observação do ponto de vista oriental, referência à anatomia subtil 
Referências:
Encontrou-se pouca informação sobre este assunto, como base temos a obra de um médico francês que relata os avanços em diversos tratamentos psiquiátricos com os exercícios da yoga.
Bernard Auriol - El Yoga y la Psicoterapia - ed. Herder. O original é francês mas foi indicada esta versão em espanhol. Caso tenha algo a acrescentar sobre o assunto envie.
O que entendemos por Esquizofrenia ?
É uma perturbação do cérebro severa e incapacitante. Estima-se que no mínimo 1% da população mundial sofre desta patologia. Caracteriza-se por uma percepção constante da realidade própria e irreal. 
A pessoa enferma pode ter ilusões visuais  e/ou auditivas, ou acreditar que alguém lhes está a ler a mente, a controlar os seus pensamentos ou a conspirar contra o enfermo. Esta experiência é aterrorizante e pode levar a agitação ou recolhimento extremo.
Algumas pessoas têm diálogo ilógico ou ficam sentados sem se mexer a olhar para o vazio, podem também parecer perfeitamente normais até dizerem o que estão a pensar verdadeiramente. Desta forma o comportamento social encontra-se muito debilitado. Esta patologia é silenciosa, pode evoluir ao longo do tempo sem que ninguém se aperceba, nem o próprio por vezes. O episódio de crise é curto e intenso e é um sinal que a patologia já existe.
Por vezes a esquizofrenia pode ser rápida ou súbita, num prazo que pode evoluir de semanas ou mesmo dias. Mas cada caso é um caso. Muitas pessoas têm um vida normal e productiva entre crises, umas  dão-se bem com a medicação outras entram em estados depressivos reincidentes.
Reconhecem-se vários tipos de esquizofrenia: catatonica, paranoide, disorganizada, indiferenciada e residual.
1 - Sobre os exercícios:
Aconselha-se o trabalho de pernas e abdómen, de forma a melhorar o sentido de equilíbrio. Nos dias de hoje os colegas de psicologia já reconhecem que este tipo de exercícios ajuda uma pessoa a ligar-se mais "à terra", a ter contacto com o mundo real e concreto. Em função da forma como a pessoa reage devem eleger-se sempre os exercícios que são mais confortáveis.
Estes asanas ajudam a desbloquear o Muladharacakra que nos liga à energia da Terra e o Manipuracakra que nos ajuda a trabalhar os medos interiores.
As posturas invertidas irrigam o cérebro e poderão ser um auxílio na questão dos neurotransmissores, no entanto, a esquizofrenia também é uma doença onde a pessoa vê o que não existe, ou seja, perde o contato com o real. Nesse sentido, as poses invertidas não são recomendadas pois elas enfatizam o mundo das idéias e a falta de contato com a realidade. Ou seja, o deixariam ainda mais sem os pés no chão.
As posturas invertidas ajudam a a energizar o Ajñacakra reequlibrando os pensamentos e a visão do mundo 
Por isso propõe-se que sejam acrescentadas apenas semi-invertidas.
A enfase deve ser dada nas posturas de pernas (Virabhadrásana, Trikonásana, todas as posturas de equilíbrio, Tadásana, etc.) e também para o abdômen (paschimotanásana, navasana, ...), que fortalecem o cérebro visceral.
Podem-se trabalhar posturas semi-invertidas, mas com ênfase às pernas.
Pedagogicamente observa-se que a pessoa praticante gosta da técnica que tem afinidade e evita a dificuldade. Mas para atingirmos o equilíbrio é importante desenvolver sempre o lado com menos energia.
Os exercícios mais incómodos são acrescentados dentro do ponto de vista de adaptação gradual progressiva dentro da sequência proposta e evolução da praticante.
O que é a esquizofrenia para o yoga ? Algo bastante familiar. Do ponto de vista mais subtil podemos traçar um paralelo com a ascensão da kundalini. O despertar da energia cósmica é distinto para cada caso.

Tendo em consideração as três doenças mentais referidas (bipolaridade, paranóia e esquizofrenia) e o despertar e da ascensão da kuṇḍalinī, e como este processo ocorre na anatomia sutil.
Descarta-se a bipolaridade. A bipolaridade é uma doença mental causada pelo desequilíbrio das três gua-s (qualidades da natureza) nos doa-s (humores corporais). A mente se encontra uma predisposição tamásica ocorre a depressão; quando a mente se encontra em uma predisposição rajásica ocorre a mania. Portanto, o tratamento e ayurvédico, é uma satvificação do corpo, mente e emoções. Isso se dá através da prática do Yoga, meditação, massagens e o cultivo de um estilo de vida saudável, simples e menos consumista. Alimentação vegetariana, livros e filmes que inspirem a paz, harmonia, felicidade etc.

Assim descartamos a associação entre a bipolaridade e a experiência da kuṇḍalinī, para este ponto de vista superficial e pedagógico.

Tanto a esquizofrenia quanto a paranóia podem ser associadas ao fenómeno da kuṇḍalinī. Na Índia inúmeras pessoas que são diagnosticadas com esquizofrenia estão passando por algum tipo de despertar espiritual, muitas vezes associado ao despertar da kuṇḍalinī mas como os seus corpos e mentes não estão purificados o suficiente para que esse processo ocorra sem dificuldades, ele é acompanhado por rupturas na psique, causando assim a desfragmentação da substância mental. Um fenômeno que está completamente longe de ser diagnosticado por meios físicos e pensamento ocidental.

O despertar da kuṇḍalinī ocorre de maneira distinta nas pessoas. Apenas alguém com realização pode guiar o processo e sabe como lidar com os fenómenos normais e anormais resultantes.
Nota-se algumas condições que podem desencadear esse fenómeno
1. utilização de certas drogas ou gañjā (cannabis);
2. prática intensa de respiratórios (prāāyāma);
3. dedicação a prática espiritual (sādhanā);
4. pela graça do guru no processo de transferência da energia espiritual (śaktipāt);
5. por acidente ou trauma;
6. espontaneamente.

Da mesma maneira, alguns mestres deixaram registros de suas experiências com a kuṇḍalinī e os sintomas dela derivados:

1. sensação de uma forte corrente eletrica saindo da base da coluna e subindo até o topo da cabeça;
2. calor intenso no corpo;
3. queimaduras podem aparecer na pele, por todo o corpo, sem um motivo aparente;
4. visões de energias, entidades ou seres que não são visíveis as pessoas comuns;
5. a escuta de vozes ou zumbidos;
6. a escuta e percepção de pensamentos e intensões inatas de outras pessoas.
O que é a kundalini ?
Dentro da coluna vertebral existe um canal de energia ou consciência chamado suumnānāī. Este canal por onde flui o prāa (energia vital) é constiuído por três camadas ou nāī-s internos: vajrānāī, citrinīnāī e brahmanāī. Quando a pessoa não se encontra preparada, não segue uma dieta sátvica, não controla seus estímulos sensoriais e mentais, não segue as diretrizes morais e éticas do Yoga (i.e. yama e niyama), não pratica yogāsanas e meditações regulares, é muito difícil que desperte e ascenda a kuṇḍalinī. Mas pode acontecer. Neste caso, não será com facilidade, e a experiência pode ser difícil e perturbadora. Vamos então trabalhar com esta hipótese:

A kuṇḍalinī irá ascender através da camada mais externa do suumnā, o vajrānāī, onde todos os tipos de fenômenos psíquicos se manifestarão, incluíndo a audição de vozes e a visão de diferentes tipos de entidades. Isso pode ser altamente perturbador se o corpo e a mente estiverem dominados por rajo ou tamogua, fazendo com que a pessoa apresente características esquizofrênicas.

Se a kuṇḍalinī ascende através do citrinīnāī, haverá um número maior de experiências. Os vtti-s são alocados nos cakra-s ao longo deste canal. Assim, se a kuṇḍalinī ascende e invade um cakra que não está completamente aberto, sua força pode vazar para fora através de algum vtti particular, seja ele medo, raiva, luxúria etc. Quando isso ocorre, o vtti em particular torna-se supersaturado, e a pessoa se tornará obsediada, ocorrendo também um aumento gigantesco na propensão do vtti supersaturado. Assim, a pessoa pode manifestar características maníacas, paranóicas ou obsessivas.

Quando a pessoa faz um trabalho de preparação espiritual pela prática de yogāsana-s e as demais técnicas do hahayoga, faz meditações regulares, segue uma dieta sátvica e procura controlar seus impulsos sensoriais seguindo os preceitos morais e éticos do Yoga, e não havendo nenhum bloqueio no caminho, a kuṇḍalinī então ascende através do brahmanāī. Neste caso não haverá nenhuma perturbação, mas várias experiências elevadas na medida em que a kuṇḍalinī atravessa os cakra-s. Por exemplo, quando a kuṇḍalinī perpassa o anāhatacakra a pessoa experimenta um sentimento de conectividade com o Universo, onde tudo é banhado por uma prístina luz dourada de amor divino.

É importante perceber o problema de forma holística. Saber se todas estas informações recolhidas estão associadas também ao passado. No caso das drogas, se há uma utilização permanente ou é algo que ocorre somente às vezes. Isso tudo tem de ser levado em consideração para um diagnóstico preciso sobre os efeitos da kuṇḍalinī.

De qualquer maneira, trabalhar com a terra (p.e. jardinagem) e a prática de exercícios físicos (p.e. corridas e caminhadas) farão com que a pessoa fique mais equilibrada. Ela precisa de uma prática regular de asanas e uma alimentação sátvica. Posteriormente, e somente então, quando sua mente estiver mais equilibrada, uma prática pessoal de meditação. 

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